Há alguns anos, era muito comum encontrarmos desenvolvedores que conheciam somente uma linguagem, e por isso intitulavam-se “desenvolvedor Java”, “desenvolvedor Delphi”, “desenvolvedor ASP”, ou qualquer outra linguagem. Eram pessoas que conheciam uma, e somente uma, linguagem de programação, e a defendiam com unhas e dentes em qualquer discussão nos fóruns, frequentemente gerando flame wars.
Esse tipo de desenvolvedor ainda existe, mas é cada vez menos comum, e isto é muito positivo. O livro The Pragmatic Programmer recomenda que aprendamos uma linguagem nova por ano, e, com isso, muitos daqueles desenvolvedores Java ou C# estão aprendendo Ruby, Python ou Erlang. Mesmo que não tenhamos pretensão de trabalhar com estas linguagens, pelo menos a curto ou médio prazo, cada linguagem tem suas particularidades, ajudando a quebrar paradigmas. Quando conhecemos somente uma linguagem, temos uma grande tendência a resolver os problemas sempre da mesma forma, conforme aprendemos e como é feito tradicionalmente com aquela linguagem. Desta forma, a tendência é a estagnação, pois não procuramos outras maneiras de resolver os problemas. A partir do momento em que começamos a estudar outras linguagens, abrimos nossa cabeça e começamos a “pensar fora da caixa”, e percebemos que existem muitas outras maneiras de resolver aquele mesmo problema, muitas delas mais simples e adequadas à situação. Surgem os desenvolvedores poliglotas.
Na época dos desenvolvedores monoglotas (sim, essa palavra existe!) era muito comum vermos discussões do tipo: “que linguagem é melhor, X ou Y?”. A melhor resposta é: depende! Depende da situação, do projeto, da experiência da equipe… Para cada situação, uma linguagem pode ser mais adequada que outra, o que traz uma grande vantagem para os poliglotas, pois, para se tomar esta decisão, é necessário conhecer as linguagens disponíveis. Ao mesmo tempo, se ninguém na equipe tiver experiência com determinada linguagem, seria um grande risco utilizá-la no projeto. É como uma caixa de ferramentas: se eu tiver somente um martelo na minha caixa, como farei para apertar um parafuso? É importante termos o maior número possível de ferramentas disponíveis, e conhecimento sobre cada uma delas, para que possamos escolher a mais adequada em cada situação.
Acompanhando esse comportamento, há atualmente uma forte tendência a plataformas poliglotas, o que também é muito positivo. As plataformas existentes já estão bastante maduras, têm algoritmos eficientes para gerenciamento de memória e Garbage Collection, por exemplo, e são bem conhecidas. Encontram-se nesta categoria as plataformas Java e .NET, que estão continuamente aumentando o número de linguagens suportadas - veja a lista de linguagens suportadas pela JVM e pelo .NET. Com isso, a escolha da linguagem para cada projeto fica muito mais fácil, permitindo, inclusive, projetos poliglotas. Se você trabalha com Java e decide utilizar Ruby no seu projeto, por exemplo, basta adicionar o jar do JRuby.
A conclusão que podemos tirar disso é que um desenvolvedor nunca deve estagnar. Procure sempre estudar e aprender novas coisas, mesmo que não seja nada relacionado com o que você está trabalhando atualmente, pois, mesmo que não venha a trabalhar, isso ajuda a quebrar paradigmas e permite que você se torne um melhor desenvolvedor.